Fé, razão, pecado e redenção no pensamento de Blaise Pascal
"Entro em pânico todas as vezes que eu vejo a cegueira e a miséria do homem, sem luz, abandonado a si mesmo, perdido neste canto do universo, sem saber quem aqui o colocou, o que vai fazer e o que acontecerá quando morrer."
Nascido em Clermont-Ferrand, na região central da França, em 19 de junho de 1628 -- um ano antes do cardeal Richelieu assumir o poder em nome de Luís 13 -- e órfão de mãe aos 3 anos, Blaise Pascal era, a princípio, um notável matemático e físico. Seu primeiro livro científico foi escrito em 1640, quando ele tinha 17 anos (“Ensaio Sobre os Cones”). Deve-se a ele a chamada Lei de Pascal, a teoria das probabilidades, a invenção de uma máquina capaz de fazer as quatro operações (a Pascalina) e do carrinho de mão de uma roda só. A linguagem de programação Pascal, publicada em 1970, e usada até hoje, recebeu esse nome em homenagem ao matemático, mesmo não sendo desenvolvida por ele. Com a sua conversão a Cristo em 1654, aos 31 anos de idade, pouco depois de um acidente de carruagem em uma das pontes de Paris, Pascal tornou-se uma testemunha laica proeminente do cristianismo, mais ligado a Cristo do que à tradição e à própria igreja. Sua noção de pecado e seu cristianismo são dignos de atenção. Dizia ele que “a fé cristã não visa senão a estabelecer estas duas coisas: a corrupção da natureza humana e a redenção de Jesus Cristo”. Para ele, Jesus era “a pedrinha de Daniel” -- aquele que “seria pequeno no começo e cresceria em seguida”. É uma referência à pedra que se soltou da montanha, “sem auxílio de mãos”, e esmigalhou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro da estátua do sonho de Nabucodonozor (Dn 2.45). Dentre as muitas declarações sobre Jesus, a mais enfática talvez seja: “Sem Jesus Cristo, o homem permanece no vício e na miséria. Com Jesus Cristo, o homem está imune ao vício e à miséria”.
Pascal conheceu o evangelho por influência do jansenismo: um movimento dentro da igreja, fundado pelo bispo holandês Cornelius Jansen (1585–1638), que preconizava uma reforma católica com base na igreja primitiva e uma espiritualidade interior. No caso dele, a conversão se deu em uma data precisa (23 de novembro de 1654, numa segunda-feira à noite, “das dez e meia da noite, mais ou menos, até cerca de meia-noite e meia”) e em um lugar determinado (em seu quarto, enquanto lia a sós a oração sacerdotal de Jesus, em João 17). Na mesma ocasião, ele registrou essa experiência em um pedaço de pergaminho. Como esse escrito estava costurado no forro do seu casaco, quando morreu, oito anos depois, supõe-se que Pascal o tenha carregado na roupa o tempo todo.
Depois de sua conversão, o ainda jovem matemático (31 anos) dedicou-se devotamente ao Senhor, sem colocar a ciência de lado (três anos depois, ele compôs “Elementos da Geometria”). Percebe-se a sua verdadeira espiritualidade, por exemplo, no título dado a um dos seus textos religiosos: “Oração para pedir a Deus a graça de fazer bom uso das enfermidades e outras obras”. Ele mesmo não tinha saúde e morreu cedo de um tumor maligno primeiramente no estômago e depois no cérebro, em 19 de agosto de 1662, um mês antes de completar 39 anos. Ele dizia que “nós podemos tudo com Aquele sem o qual não podemos nada”.
Pascal tinha 23 anos quando o também matemático e filósofo René Descartes morreu (1650). Por ter dado muito espaço para a razão e para a ciência e pouco espaço para a fé e para Deus, Descartes não gozava da admiração de Pascal. Em um dos seus pensamentos, Pascal diz que “não vale a pena perder tempo com a filosofia de Descartes”. Pascal, por sua vez, valoriza a razão sem desvalorizar a fé.
O livro “Pensamentos”, de Pascal, foi escrito com o propósito de persuadir os céticos, numa época em que predominavam o racionalismo de Descartes (1596–1650), o reducionismo de Montaigne (1533–1592) e o ceticismo do ex-monge italiano Lucilio Vanini (1585–1619). Ao surgir uma ideia, Pascal a anotava em qualquer pedaço de papel, deixando para colocar em ordem os escritos quando tivesse tempo. Entretanto, isso foi feito depois de sua morte, por familiares e amigos. O livro, obra prima da literatura francesa, tem também outro título: “Apologia da Religião Cristã”. O que ele fez no século 17 pode ser feito no século 21!
Nascido em Clermont-Ferrand, na região central da França, em 19 de junho de 1628 -- um ano antes do cardeal Richelieu assumir o poder em nome de Luís 13 -- e órfão de mãe aos 3 anos, Blaise Pascal era, a princípio, um notável matemático e físico. Seu primeiro livro científico foi escrito em 1640, quando ele tinha 17 anos (“Ensaio Sobre os Cones”). Deve-se a ele a chamada Lei de Pascal, a teoria das probabilidades, a invenção de uma máquina capaz de fazer as quatro operações (a Pascalina) e do carrinho de mão de uma roda só. A linguagem de programação Pascal, publicada em 1970, e usada até hoje, recebeu esse nome em homenagem ao matemático, mesmo não sendo desenvolvida por ele. Com a sua conversão a Cristo em 1654, aos 31 anos de idade, pouco depois de um acidente de carruagem em uma das pontes de Paris, Pascal tornou-se uma testemunha laica proeminente do cristianismo, mais ligado a Cristo do que à tradição e à própria igreja. Sua noção de pecado e seu cristianismo são dignos de atenção. Dizia ele que “a fé cristã não visa senão a estabelecer estas duas coisas: a corrupção da natureza humana e a redenção de Jesus Cristo”. Para ele, Jesus era “a pedrinha de Daniel” -- aquele que “seria pequeno no começo e cresceria em seguida”. É uma referência à pedra que se soltou da montanha, “sem auxílio de mãos”, e esmigalhou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro da estátua do sonho de Nabucodonozor (Dn 2.45). Dentre as muitas declarações sobre Jesus, a mais enfática talvez seja: “Sem Jesus Cristo, o homem permanece no vício e na miséria. Com Jesus Cristo, o homem está imune ao vício e à miséria”.
Pascal conheceu o evangelho por influência do jansenismo: um movimento dentro da igreja, fundado pelo bispo holandês Cornelius Jansen (1585–1638), que preconizava uma reforma católica com base na igreja primitiva e uma espiritualidade interior. No caso dele, a conversão se deu em uma data precisa (23 de novembro de 1654, numa segunda-feira à noite, “das dez e meia da noite, mais ou menos, até cerca de meia-noite e meia”) e em um lugar determinado (em seu quarto, enquanto lia a sós a oração sacerdotal de Jesus, em João 17). Na mesma ocasião, ele registrou essa experiência em um pedaço de pergaminho. Como esse escrito estava costurado no forro do seu casaco, quando morreu, oito anos depois, supõe-se que Pascal o tenha carregado na roupa o tempo todo.
Depois de sua conversão, o ainda jovem matemático (31 anos) dedicou-se devotamente ao Senhor, sem colocar a ciência de lado (três anos depois, ele compôs “Elementos da Geometria”). Percebe-se a sua verdadeira espiritualidade, por exemplo, no título dado a um dos seus textos religiosos: “Oração para pedir a Deus a graça de fazer bom uso das enfermidades e outras obras”. Ele mesmo não tinha saúde e morreu cedo de um tumor maligno primeiramente no estômago e depois no cérebro, em 19 de agosto de 1662, um mês antes de completar 39 anos. Ele dizia que “nós podemos tudo com Aquele sem o qual não podemos nada”.
Pascal tinha 23 anos quando o também matemático e filósofo René Descartes morreu (1650). Por ter dado muito espaço para a razão e para a ciência e pouco espaço para a fé e para Deus, Descartes não gozava da admiração de Pascal. Em um dos seus pensamentos, Pascal diz que “não vale a pena perder tempo com a filosofia de Descartes”. Pascal, por sua vez, valoriza a razão sem desvalorizar a fé.
O livro “Pensamentos”, de Pascal, foi escrito com o propósito de persuadir os céticos, numa época em que predominavam o racionalismo de Descartes (1596–1650), o reducionismo de Montaigne (1533–1592) e o ceticismo do ex-monge italiano Lucilio Vanini (1585–1619). Ao surgir uma ideia, Pascal a anotava em qualquer pedaço de papel, deixando para colocar em ordem os escritos quando tivesse tempo. Entretanto, isso foi feito depois de sua morte, por familiares e amigos. O livro, obra prima da literatura francesa, tem também outro título: “Apologia da Religião Cristã”. O que ele fez no século 17 pode ser feito no século 21!
Nenhum comentário:
Postar um comentário